Educação
Seis meses após lei que restringe celular, escolas têm melhora no desempenho e queda no cyberbullying
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Aprovada em janeiro deste ano, a Lei nº 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares e dispositivos portáteis em escolas de educação básica em todo o Brasil, completa seis meses com os primeiros resultados sendo observados por instituições de ensino, especialistas e famílias. Relatórios e levantamentos preliminares indicam avanços no desempenho acadêmico, maior socialização entre os alunos e uma redução significativa nos casos de cyberbullying.

Em São Paulo, escolas estaduais registraram aumento médio de até 20% nas notas dos alunos no segundo bimestre, em comparação ao mesmo período de 2024, segundo levantamento divulgado pela DW. No Rio de Janeiro, estudantes do 9º ano tiveram 53% mais chance de atingir o nível adequado em matemática, enquanto no 8º ano o avanço foi de 32%.

Além da melhora no rendimento, a proibição também parece ter ampliado a interação entre os alunos nos intervalos. Um levantamento do IBGE com 210 estudantes do Distrito Federal revelou que 66% perceberam aumento na comunicação entre colegas desde a entrada em vigor da nova legislação. Entre alunos de escolas privadas, a pesquisa identificou ainda um ganho na concentração em sala de aula.

Para a psicóloga Andrea Beltran, especialista em psicologia analítica junguiana, os resultados refletem uma mudança de ambiente nas escolas. “Sou totalmente a favor da retirada dos celulares das salas de aula. Essa medida contribui diretamente para a redução do cyberbullying e para a retomada da convivência social entre os alunos, algo essencial para o desenvolvimento emocional e psicológico”, afirma.

Dados do Relatório de Tendências de Comportamento Digital 2025 reforçam a percepção da especialista. O documento aponta uma redução de 28% nos casos de cyberbullying nas escolas que passaram a aplicar as restrições previstas na lei. “É um dado relevante, que mostra o impacto direto da regulação no ambiente escolar. Ao eliminar o principal canal das agressões virtuais durante o período letivo, estamos promovendo segurança emocional para os estudantes”, diz a Dra. Andrea.

A psicóloga destaca ainda que o retorno das interações presenciais tem papel decisivo na formação de crianças e adolescentes. “Professores e gestores relatam que os intervalos e os corredores voltaram a ser espaços de brincadeiras e trocas. Esse tipo de convivência fortalece habilidades sociais fundamentais e estimula o senso de pertencimento, muitas vezes fragilizado pelo uso excessivo das telas”, analisa.

Apesar dos avanços, Andrea Beltran afirma que o debate não deve se encerrar nos portões da escola. “É fundamental que as famílias também se envolvam e estabeleçam limites ao uso da tecnologia em casa. Muitos pais retiram os celulares dos filhos na escola, mas permitem o uso irrestrito no ambiente doméstico. Essa contradição compromete os resultados e expõe as crianças aos mesmos riscos”, avalia.

Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2025, 95% das crianças e adolescentes acessam a internet diariamente no país, e 70% iniciam esse hábito antes dos 10 anos. Para a psicóloga, esse comportamento demanda vigilância e orientação. “O uso precoce e desregulado das redes sociais pode afetar diretamente a autoestima, a concentração e a saúde mental dos jovens. A escola dá o primeiro passo, mas é em casa que essa educação precisa continuar.”

A especialista também aponta o consumo rápido de conteúdo como um fator preocupante. “A predominância de plataformas como TikTok e Instagram está moldando um padrão mental que prejudica a capacidade de leitura, interpretação e diálogo. É preciso reverter esse processo com estímulo à leitura, à escuta e ao pensamento crítico”, defende.

Outra questão apontada por Andrea é a dificuldade crescente das crianças em lidar com o ócio. “Muitas não sabem mais o que fazer com o tempo livre. Estão sempre em busca de estímulos digitais. Recuperar o tédio criativo, o brincar espontâneo, é uma das tarefas mais urgentes que temos hoje na formação infantojuvenil”, observa.

Ela defende que as escolas invistam em ações de orientação às famílias. “Rodas de conversa, palestras e grupos informativos são estratégias eficazes para ampliar a conscientização. Já participei de iniciativas assim e vejo como fazem diferença. Os pais precisam entender os riscos reais do uso excessivo das telas”, afirma.

 Andrea Beltran propõe a criação de disciplinas voltadas à cidadania digital. “Temas como ética online, segurança na internet e comportamento nas redes devem fazer parte do currículo escolar. As crianças precisam ser preparadas para atuar com responsabilidade no mundo digital, e isso só é possível com educação continuada e diálogo aberto", conclui a psicóloga.

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