Opinião
Por que China e EUA têm mais em comum do que o Brasil imagina
Roque Almeida durante missão técnica na China a convite da Associação para Desenvolvimento Imobiliário e Turístico
Roque Almeida durante missão técnica na China a convite da Associação para Desenvolvimento Imobiliário e Turístico

Voltar de uma missão empresarial à China sem trazer mais perguntas do que respostas é quase impossível. Recentemente, ao lado de um grupo de líderes do setor imobiliário e da construção civil, percorri a Muralha da China, Pequim e outras cidades, onde conhecemos de perto projetos urbanos, políticas públicas e modelos de negócios que desafiam o convencional. Mas foi em Weili Shan, um bairro regenerado em Xiamen, que encontrei o verdadeiro centro da reflexão: a diferença entre cidades que crescem e cidades que são construídas.

Weili Shan era, até poucos anos atrás, mais uma vila urbana precarizada, com moradias degradadas e escassez de espaços públicos. Hoje, é uma vitrine nacional de regeneração urbana inteligente. O mais fascinante, porém, está na lógica que sustentou essa transformação. A receita chinesa para Weili Shan combinou investimento público e privado desde o início, estabelecendo uma parceria em que o Estado define a direção estratégica e as empresas executam com eficiência. Não houve terceirização da responsabilidade pública, tampouco captura do interesse coletivo pela iniciativa privada.

As receitas geradas pelas taxas condominiais passaram a sustentar os custos operacionais do bairro regenerado. E a tecnologia, invisível, mas onipresente, garante a governança em tempo real: o bairro opera sob uma central de comando integrada a algoritmos de inteligência artificial. O sistema monitora desde o descarte incorreto de lixo até situações de emergência, aciona soluções automaticamente e emite alertas à população por meio de um aplicativo.

Weili Shan foi modernizado em fases: infraestrutura, gestão e, depois, cultura e economia criativa. Nada de urbanismo apressado ou soluções descoladas da realidade. Uma antiga casa abandonada virou uma casa de chá tradicional, resgatando a história local enquanto ativa a economia. Espaços públicos foram redesenhados, o comércio de bairro revitalizado, e 115 prédios ganharam nova fachada por um custo médio de apenas R$ 30 por metro quadrado, viabilizado por consórcios entre Estado, moradores e empresas.

Essa experiência política, econômica e social ilustra algo mais profundo: na China, e também nos Estados Unidos, guardadas as diferenças políticas, o sistema funciona. As regras são claras. A máquina pública, mesmo imperfeita, entrega. Há método, projeto de Estado e compromisso institucional com resultados. Por isso, curiosamente, hoje vejo mais semelhanças entre China e Estados Unidos do que entre China e Brasil.

Nosso país, infelizmente, segue travado. Não pela falta de boas ideias ou profissionais qualificados, mas pela incapacidade estrutural de fazer o básico funcionar. Projetos urbanos patinam entre burocracias, embates ideológicos e interesses difusos. A polarização entre “público ou privado” vem anulando a potência de pensar “público com o privado”. E os projetos de governo, sempre tentando ultrapassar o anterior, em vez de manter o que foi bom e melhorar o que não foi, anulam qualquer possibilidade de um projeto de Estado que nos permita, enfim, enxergar o futuro do Brasil.

*Roque Almeida é fundador e CEO da matter&Co, ecossistema de inteligência de negócios composto por nove empresas com atuação nacional e internacional.

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