Meio Ambiente
Estudo comprova viabilidade financeira de sistemas agroflorestais no Cerrado e incentiva investimentos
Foto:Veronica Maioli/WWF-Brasil
Veronica Maioli/WWF-Brasil

Uma nova publicação lançada pela The Nature Conservancy (TNC) Brasil traz evidências inéditas da viabilidade financeira dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Cerrado, aliadas a uma análise detalhada das salvaguardas socioambientais, ou seja, medidas de proteção que devem ser incorporadas no planejamento e execução para a expansão sustentável da atividade. O objetivo é fomentar investimentos e apoiar a estruturação de mecanismos financeiros voltados aos SAFs no País.

Fruto da iniciativa Inovação Financeira para Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC), o estudo busca chamar a atenção de bancos, empresas da cadeia de valor, gestores de ativos e outras instituições para o potencial econômico e socioambiental dos SAFs. Um destaque é o financiamento misto, que se mostra como peça-chave para viabilizar a expansão dos sistemas agroflorestais, integrando recursos públicos e privados, mitigando riscos e viabilizando investimentos de longo prazo.

A análise aponta ainda que, apesar do potencial, os sistemas agroflorestais ainda enfrentam desafios como ausência de crédito específico, fornecimento limitado de insumos, baixa oferta de assistência técnica e escassez de estudos científicos sobre espécies nativas do Cerrado. De acordo com o levantamento, 52 mil propriedades na região já adotam modelos agroflorestais, sendo a maioria de pequeno porte – o que evidencia a importância de financiamento convergente com as demandas da agricultura familiar.

Casos de Sucesso 

O levantamento traz três estudos de caso desenvolvidos por organizações parceiras – Belterra, WRI Brasil com WWF-Brasil e Carbon 4412 com Rizoma – que exploram diferentes configurações de SAFs implementadas em áreas já abertas do Cerrado. Os resultados financeiros são expressivos: a taxa interna de retorno (TIR) varia de 26% a 79%, com prazos de retorno entre 4 e 11 anos, a depender do modelo.

"Esses modelos mostram que não precisamos escolher entre produzir e preservar”, diz Julio Alves, analista sênior de Sistemas Alimentares Sustentáveis no WRI Brasil e autor de um dos capítulos do estudo. “No mesmo espaço, o agricultor colhe alimento, gera renda, restaura o solo e mantém viva a riqueza biológica e cultural do Cerrado", explica Alves.

As análises feitas pelo WWF-Brasil e pelo WRI Brasil mostram que os SACIs (Sistemas AgroCerratenses), que são sistemas agroflorestais inspirados na estrutura e composição de espécies nativas do Cerrado, comprovam a viabilidade de um modelo que alinha prática, cultura e território. O documento é atual e relevante, reunindo, em um só lugar, informações sobre como fazer, quanto custa, que lucro se pode esperar, o que plantar e como desenhar os sistemas, além de trazer exemplos práticos. A metodologia do levantamento alia aspectos econômicos e ambientais.

 “Nosso trabalho alia dados científicos, conhecimento tradicional e demonstra como implementar, que espécies usar e a viabilidade econômica dos SACIs, trazendo mais segurança aos produtores que forem implementá-los. Os modelos valorizam as espécies nativas do Cerrado e ampliam a segurança alimentar local, conciliando produção agrícola e restauração, enquanto geram renda extra. Os SACIs são uma tecnologia social que atende a demanda por uma restauração produtiva de áreas degradadas do Cerrado e podem ser uma solução promissora para o desenvolvimento sustentável no Cerrado”, diz Veronica Maioli, especialista em Conservação do WWF-Brasil, uma das autoras do estudo.

Já a proposta da Belterra, combina espécies nativas como Baru, Pequi e Macaúba, com TIR de 79% e payback em apenas 4 anos. O terceiro estudo, da Carbon 4412 em parceria com a Rizoma, incorpora o componente de sequestro de carbono em uma fazenda de transição Cerrado-Amazônia, reforçando o valor ambiental dos sistemas.

“O SAFs são ferramentas promissoras para a recuperação ambiental e o desenvolvimento territorial, se forem pautados no fortalecimento e integração dos diferentes elos da cadeia. É importante também incluir comunidades tradicionais, por exemplo através da coleta de sementes”, atesta Marco Bellotti, da Belterra Agroflorestas.

“Todos os estudos demonstram a viabilidade financeira, mas o sucesso dos SAFs demanda arranjos e parcerias com entidades locais, regionais e federais para superar os desafios ligados ao fornecimento de sementes e mudas, o beneficiamento e escoamento dos produtos, o combate à incêndios, e a assistência técnica. Os estudos também apontam para a necessidade de aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, para que as espécies nativas possam competir com mais força na silvicultura comercial e para que sejam explorados novos usos”, avalia Natália Leite, organizadora da publicação.

Salvaguardas socioambientais 

Para garantir que a ampliação dos SAFs ocorra de forma ética e responsável, o material apresenta uma listagem de salvaguardas socioambientais essenciais. Com base em uma revisão da literatura e entrevistas com especialistas da TNC, as salvaguardas abrangem diretrizes para prevenir, mitigar e compensar impactos negativos sobre comunidades e ecossistemas. A publicação reforça que, embora a adoção dessas medidas possa gerar custos adicionais, os benefícios ambientais e sociais justificam o investimento.

“A recuperação dos serviços ecossistêmicos e o fortalecimento econômico das populações locais são elementos centrais dos SAFs. Com as salvaguardas adequadas, estes modelos podem ser uma das principais estratégias para impulsionar uma economia de baixo carbono no Cerrado”, conclui Natália.

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