A 21ª edição da Paixão de Cristo, encenada pela Cia Art’Sacra e Instituto Nativus, na sexta-feira última, 18 de abril, na Praça dos Girassóis, reuniu mais de 10 mil pessoas para prestigiar uma celebração artística que ultrapassou os limites da encenação e se transformou em um encontro de fé, arte e humanidade.

Com as arquibancadas e cadeiras lotadas, a montagem transportou o público para os últimos momentos da vida de Jesus Cristo, em um espetáculo marcado pela sensibilidade, beleza cênica e força dramática. No centro da cena, mais de 100 artistas e técnicos se revezaram entre cenários, coreografias e interpretações que comoveram do início ao fim do espetáculo.

Entre os destaques do elenco, a atriz Giselle Itié, que viveu Maria, mãe de Jesus, compartilhou sua emoção após o espetáculo: “Foi uma experiência incrível. Eu busquei trazer uma Maria forte, como muitas mães precisam ser para enfrentar tantas barreiras ainda impostas na nossa sociedade. Estou muito grata por Palmas e a Cia Art’Sacra terem me escolhido e me acolhido com tanto amor”, disse a atriz.

O ator Ivo Gandra, que interpretou Jesus, descreveu o momento da crucificação como o ápice emocional da apresentação: “Ver aquela multidão em silêncio, sentindo cada momento daquela entrega me contagiou. O público foi parte disso, dessa entrega, dessa emoção. Eu busquei apresentar um Jesus mais humanizado e estou ainda impactado com essa experiência, que foi incrível". 

Já Iva de Oliveira, em uma marcante atuação como Cláudia, esposa de Pilatos, destacou a relevância da arte como ponte entre o sagrado e o humano: “Cláudia é uma mulher que vê o destino se cumprir diante de seus olhos e luta contra a injustiça. É uma personagem que me fez refletir sobre a coragem de escutar a própria consciência". 

Produção

O espetáculo, que levou cerca de cinco meses de preparação, é um dos maiores eventos de teatro ao ar livre do Norte do Brasil e se consolidou como uma tradição cultural da Semana Santa tocantinense. Para o diretor-geral Valdeir Santana, essa edição superou todas as expectativas: “A cada ano a gente se propõe a tocar o coração das pessoas, mas nesta edição houve algo diferente. A energia da plateia, o elenco inteiro entregue… foi mágico. Foi divino.”

Responsável por preparar o extenso elenco, o diretor de elenco Renato Fontanelli destacou o comprometimento dos artistas: “Tivemos atores profissionais, amadores, gente que nunca tinha pisado num palco. Mas todos com uma mesma fé, uma mesma vontade de contar essa história com verdade. E conseguimos.”

O elenco foi formado por atores profissionais, amadores, indígenas Xerente, jovens do sistema socioeducativo, pessoas com deficiência integrantes do projeto Pequeno Cotolengo, de todas as religiões e idades.

Público

O presidente da Federação Tocantinense de Artes Cênicas, Kaká Nogueira, ressaltou a grandiosidade da produção. “É com certeza o maior espetáculo de teatro do Tocantins e não tenho dúvidas de que é um dos maiores da nossa região. A Art’Sacra está de parabéns pela luta, pela garra e vontade de fazer, que nossos governantes, empresários e a sociedade de forma geral possa se envolver e apoiar esse espetáculo que é tão grandioso”, disse Kaká Nogueira.

A plateia, emocionada do início ao fim, era formada por famílias inteiras, jovens, idosos e crianças – todos em silêncio respeitoso durante as cenas mais impactantes e em aplausos calorosos ao final. A professora aposentada Dona Marilene Soares, de 67 anos, veio acompanhada das netas: “Eu choro todo ano, mas esse chorei ainda mais, cada instante, cada detalhe. Saio daqui completamente tocada, emocionada e com o coração leve.”

Lucas Andrade, universitário, veio de Paraíso do Tocantins especialmente para assistir ao espetáculo: “É uma referência para quem ama arte cênica. A Cia Art’Sacra mostra que é possível fazer arte grandiosa com verdade e respeito.” Já a enfermeira Raquel Mota, que viu pela primeira vez, resumiu sua impressão: “Foi como um abraço na alma. Saio daqui em paz.”

Apoio

A 21ª Paixão de Cristo tem parceria da Arquidiocese de Palmas, da Paróquia Dom Orione e do  contou com apoio da Prefeitura de Palmas, através da Fundação Cultural de Palmas e Secretaria de Comunicação; do Governo do Estado do Tocantins, através da Secretaria Estadual da Cultura, Secretaria do Turismo, Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais; da Escola Indígena Wakõmẽkwa Povos Xerente, Assembleia Legislativa do Tocantins, Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), da Universidade Federal do Tocantins (UFT); Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Tocantins (Fetaet), lojas Mundo Elétrico e Na Natureza; Companhia A Barraca, vereadora Iolanda e Sandro Rios Grafiteiro.

Paixão de Cristo

Reconhecido oficialmente nos calendários culturais do Estado e do município de Palmas, o espetáculo reafirma seu papel como projeto artístico e social de grande impacto. A Cia Art’Sacra, fundada em 2005, continua seu trabalho de formação e valorização da arte como instrumento de transformação.