Saúde
Cinco anos da primeira morte: nova plataforma preserva memória da Covid-19 no Brasil
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Um novo espaço digital surge para documentar a gestão da pandemia no país. Lançado pelo Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o “Acervo da Pandemia” reúne vídeos, áudios, documentos oficiais e reportagens que registram decisões políticas, estratégias sanitárias e o impacto da pandemia na população.

O Acervo foi apresentado em evento realizado na tarde dessa quarta-feira, 12/03, no campus central da Unifesp, em São Paulo, cidade onde ocorreu há cinco anos a primeira morte por Covid no país.

Com 140 registros históricos já disponíveis e outros 100 em análise, a plataforma, inédita em sua abrangência e curadoria, é considerada pelo SoU_Ciência um marco na preservação da memória coletiva e um esforço para compreender os erros e acertos da resposta brasileira à crise sanitária. Além disso, o Acervo destaca o papel do governo Bolsonaro na condução da pandemia, apontando a influência do negacionismo e da desinformação nas decisões que afetaram milhões de vidas.

“O Acervo da Pandemia não é apenas um repositório de documentos. Ele é um testemunho do que ocorreu no Brasil durante um dos períodos mais críticos da nossa história recente. Seu propósito é servir como fonte para pesquisadores, jornalistas, formuladores de políticas públicas e para qualquer cidadão que queira entender os erros e acertos na gestão da pandemia”, explica a professora Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência e ex-reitora da Unifesp.

Documentação organizada – O Acervo da Pandemia está estruturado em 17 temas, permitindo acesso direto aos documentos por área de interesse. Esses temas incluem:

Negacionismo e desinformação – Registros de discursos e ações que minimizaram a gravidade da pandemia e disseminaram informações falsas sobre o vírus e as vacinas.

Vacinação e políticas de imunização – Documentação sobre a aquisição, distribuição e aplicação das vacinas no Brasil, além dos entraves políticos que dificultaram a imunização.

Gestão federal da pandemia – Decisões do Ministério da Saúde, trocas de ministros e estratégias adotadas pelo governo Bolsonaro, muitas vezes em conflito com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ciência e pandemia – O embate entre cientistas e o governo federal em relação às medidas sanitárias e à adoção de tratamentos sem comprovação científica.

Justiça e reparação – Medidas que incluem o reconhecimento da verdade, a preservação da memória, a reparação justa às vítimas e a responsabilização dos culpados.

Além dos temas, o acervo identifica 16 tipos de agentes que tiveram papel central no período, entre eles:

Presidência da República – Discursos e posicionamentos do então presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia.

Ministério da Saúde – Documentos oficiais e medidas adotadas pela pasta durante os diferentes períodos da crise sanitária.

Fiocruz e Instituto Butantan – Produção e distribuição de vacinas nacionais e os obstáculos políticos enfrentados por essas instituições.

Governos estaduais e municipais – As ações adotadas em nível local, muitas vezes em oposição ao governo federal.

Movimentos negacionistas e sociedade civil – Registros de campanhas contra as vacinas, desinformação sobre a pandemia e esforços da sociedade civil para combater essas narrativas.

Negacionismo e consequências 

A Acervo mostra que a pandemia da Covid-19 no Brasil foi marcada por uma série de decisões governamentais que contrariaram o consenso científico internacional. Desde o início da crise, o governo Bolsonaro adotou uma postura negacionista, que incluía a desqualificação de especialistas, o incentivo ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada e o boicote a medidas sanitárias como o uso de máscaras e o distanciamento social.

No site estão reunidos documentos que registram essa postura, incluindo pronunciamentos oficiais, entrevistas e publicações em redes sociais do então presidente e de membros do governo. “A desinformação institucionalizada comprometeu gravemente a resposta brasileira à pandemia, atrasando a vacinação e contribuindo para um número de mortes que poderia ter sido evitado”, afirma Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência e ex-reitora da Unifesp.

Entre os registros disponíveis, o acervo destaca documentos que evidenciam o conceito de Necrossistema, um termo usado para descrever políticas e omissões que resultaram no agravamento da pandemia e na perda massiva de vidas. O material contém análises e reportagens que detalham como a inação governamental e as estratégias de desinformação ampliaram o impacto da crise sanitária.

Legado para pesquisa e reflexão

A plataforma foi concebida como um espaço de memória, mas também como uma ferramenta para pesquisadores, jornalistas e gestores públicos interessados em compreender a resposta brasileira à pandemia. A coleta e curadoria dos documentos foram feitas por uma equipe multidisciplinar, garantindo rigor na checagem das informações. Informações enganosas são contrapostas por explicações de fontes científicas qualificadas.

“A criação do Acervo da Pandemia representa um esforço fundamental para evitar que essa história seja apagada ou distorcida. O negacionismo teve consequências concretas e, para que erros semelhantes não se repitam, é essencial que a sociedade tenha acesso a esses registros”, destaca Smaili.

Acesso gratuito e colaboração

O Acervo da Pandemia está disponível gratuitamente para o público no site https://acervopandemia-souciencia.unifesp.br/. . Além da consulta ao material já catalogado, o projeto também convida pesquisadores e cidadãos a contribuírem com novos documentos e relatos que possam enriquecer a base de dados.

“O objetivo é que este espaço estimule o debate público e contribua para a formulação de políticas mais eficazes em futuras crises sanitárias”, conclui Smaili.

O projeto foi desenvolvido por pesquisadores e estudantes das universidades federais de São Paulo e do Rio de Janeiro (Unifesp e UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que integram o SoU_Ciência. Contou com a colaboração dos grupos de mídia independente Medo e Delírio em Brasília e Camarote da República, além de entidades como a Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO Brasil) e o Centro de Pesquisas em Direito Sanitário da USP (CEPEDISA/USP). (Agência Acadêmica)

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