Opinião
Caso Braiscompany e a responsabilidade da CVM em proteger o mercado de investimentos
Jorge Calazans é advogado especialista na área criminal
Jorge Calazans é advogado especialista na área criminal

O crescimento exponencial das fraudes em investimentos financeiros no Brasil pode ser atribuído a diversos fatores, que vão desde a falta de conhecimento das pessoas, passando pela cobiça de grandes e rápidos retornos, até chegar ao cada vez mais profissionalizado recurso de marketing por parte dos fraudadores, seduzindo a vítima para o golpe.

No que diz respeito à falta de educação financeira, ao não compreenderem completamente os riscos envolvidos em investimentos financeiros, muitas pessoas se tornam vulneráveis a esquemas fraudulentos. O desejo por altos retornos, por sua vez, deixa as pessoas mais dispostas a correrem riscos em busca de retornos financeiros elevados, o que também traz o ambiente propício para a atuação de fraudadores. O marketing agressivo é, ainda, mais um fator de fraudes. Algumas empresas fraudulentas usam técnicas de marketing cada vez mais profissionais e enganosas para atrair investidores, o que pode ser sedutor para algumas pessoas.

Por um ou mais desses fatores, a realidade é que se trata aqui de fraudes de grandes proporções. Um levantamento realizado pelo escritório Calazans e Vieira Dias Advogados em 2022 identificou mais de 1200 empresas de investimentos fraudulentas no Brasil, onde se estima que elas tenham captado nos últimos cinco anos aproximadamente 1/6 do valor do PIB nacional.

Em 2019, a pesquisa “Fraudes em Investimentos no Brasil”, conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), apontava que um em cada dez (11%) brasileiros já perdeu dinheiro em investimentos fraudulentos, principalmente em esquemas de pirâmide. Em outro recente estudo com dados de 2021, a constatação de que naquele ano, 13,9% dos internautas brasileiros tinham perdido dinheiro em algum investimento fraudulento, o que representa um contingente de 1,3 milhão de pessoas somente em 12 meses.

Entre os investidores que já perderam dinheiro em investimentos fraudulentos no Brasil, 40% entraram em esquema de pirâmide, 17% sofreram o golpe da seguradora com pagamento antecipado de taxas e/ou despesas e 13% contrataram serviço de gestão/consultoria/análise de investimentos sem o devido registro profissional da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do governo que regula e fiscaliza o mercado de ações e de valores mobiliários no país.

Um aspecto que chama a atenção é que, embora esse tipo de golpe tenha crescido exponencialmente nos últimos anos, o número de operações com medidas assecuratórias patrimoniais e pessoais efetuadas pela Polícia Federal e polícias estaduais é muito inferior, não tendo ultrapassado 60 entre os anos de 2018 e 2022. Tal dado gera um sentimento de impunidade nos golpistas, incentivando a continuidade dessas atividades fraudulentas.

Este sentimento de impunidade pode ser reforçado quando os golpistas conseguem esconder seu dinheiro ou transferi-lo para outros países, o que dificulta para as autoridades recuperar os ativos dos investidores lesados. O cenário fica ainda mais preocupante quando se sabe que a investigação e o processamento de casos de fraudes financeiras podem ser complexos e demorados, e muitas vezes requerem cooperação internacional. Além disso, os órgãos de justiça também podem enfrentar limitações de recursos e capacidade.

É nesse contexto que os golpes aparecem e, diariamente, fazem vítimas. Recentemente, nos deparamos com a queda da Braiscompany, mais uma empresa que fazia oferta de investimentos coletivos sem nunca apresentar a autorização ou a dispensa da CVM para operar. O sócio da empresa não tinha o mínimo pudor em ostentar riqueza, inclusive se sentando no Senado Federal, tudo isso sem um mínimo posicionamento da autarquia, mesmo após vários questionamentos. Um exemplo completo do que é impunidade.

Dito que a CVM tem a responsabilidade de regular o mercado de valores mobiliários no Brasil, incluindo a oferta de investimentos coletivos, bem como a autarquia tem o poder de autorizar, fiscalizar e punir as empresas e instituições financeiras que agem de forma inadequada ou fraudulenta, é fundamental que ela se posicione.

A falta de ação pode representar uma falha na proteção dos investidores e na própria regulação do mercado de valores mobiliários. A inércia pode trazer graves consequências, e isso ficou público e notório no caso da Braiscompany.

*Jorge Calazans é advogado criminalista, sócio do escritório Calazans e Vieira Dias Advogados e especialista na defesa de investidores vítimas de fraudes financeiras.

Veja Também

Os estandes que comercializam os pratos classificados para o FGT abrem às 18 horas, com oferta de receitas variadas e acessíveis a todo o...
O presidente do Sebrae, Décio Lima, afirma que iniciativa é uma ação do Brasil soberano, que abre novos caminhos...
Um relatório intitulado “PIB da Música”, divulgado com exclusividade pela Associação Nacional da Indústria da Música (ANAFIMA), revela que o setor musical brasileiro movimentou...
Objetivo é ampliar debate com parlamentares, especialistas e consumidores diante de riscos de monopólio e aumento de preços no setor pet...
Segundo a entidade, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o percentual estimado de pessoas com deficiência visual...
O levantamento aéreo vai analisar a viabilidade de ocupações e subsidiar estudos para futuros processos de regularização fundiária...
O índice acumula queda de 1,35% no ano e alta de 3,03% nos últimos 12 meses. Em agosto de 2024, o IGP-M subira 0,29% no mês...
A demanda por essa ação específica em Formoso do Araguaia partiu de uma solicitação do prefeito daquele município, Israel Borges...
Ao todo, 1.884.035 contribuintes receberão R$ 2,92 bilhões. A maior parte do valor, informou o Fisco, será para contribuintes sem...
O julgamento terá ampla cobertura jornalística. A Corte recebeu 501 pedidos de credenciamento...
A estrutura do evento já está quase finalizada, segundo a gestão de Palmas: o palco, estandes, tendas e...
O vice-governador esteve presente em três importantes eventos no Tocantins: a festa alusiva ao Dia do Soldado, em Porto Nacional; a final da...
Bancos e instituições financeiras estão impedidos de aceitar novos contratos firmados apenas com a assinatura do representante legal...
Segundo o diretor-presidente da Infra S.A., o Brasil vive um momento de retomada na infraestrutura, com grandes oportunidades...
A taxa de desocupação corresponde ao percentual de pessoas que estão sem trabalho, mas em busca de uma oportunidade. Segundo...
A Vila Sertões estará no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues, em Palmas (TO). A abertura da área de box para as equipes será no...
O projeto é coordenado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e envolve quatro fases de atuação, incluindo esta etapa de serviços itinerantes...
A criação da cobrança seria para custear a malha viária municipal, sobrecarregada pelo aumento do tráfego após colapso da ponte entre...

Mais Lidas

Agenda Cultural

Articulistas

Atividade Parlamentar

campo

Esporte

Meio Jurídico

Patrocinado

Polícia

Sociedade em Foco

Universo Espiritual

Publicidade Institucional