Opinião
A seita que não aceita
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A deusa Maat, responsável pelo equilíbrio cósmico no antigo e médio Egito há mais de 2.500 anos a.C., determinava o que era certo e errado. Punia "injustos" para impedir o caos. Crenças existem desde sempre. Não por estar no gene humano, como já foi defendido e contestado, mas sim porque o compartilhamento de angústias e a busca da salvação são necessidades das pessoas.

Em 18 novembro de 1978, na Guiana, adultos e crianças tomaram o refresco Flavor Aid com cianeto. Morreram 909 adeptos da seita Templo do Povo, do líder Jim Jones. Um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, em meados de 2010, apontou que as pessoas intuitivas têm mais fé do que as reflexivas. Adama Dieng, especialista em direitos humanos da ONU, lembra que o Holocausto teve origem nos discursos de ódio.

No início de 1996, a Assembleia Nacional da França divulgou relatório sobre a atuação de seitas e já alertava para o perigo de conturbação social embasado em ideologias radicais e crenças religiosas. No mesmo ano, o Parlamento da Alemanha criou uma comissão para acompanhar seitas e grupos psíquicos.

Na Bélgica, em 1997, um estudo apontou riscos de graves problemas políticos por radicalismos. Ainda nessa época, a Duma Federal da Rússia aprovou lei que limitava a atuação de seitas. Por fim, o próprio Parlamento Europeu interessou-se pelo tema porque "envolve posições irracionais e perigosas".

Uma coisa é a fé nos princípios de uma religião, outra é a crença irresponsável em ideologias que não têm fundamentos na realidade, que pregam e defendem conceitos vazios contrariando leis, tumultuando o processo democrático e ameaçando a segurança da sociedade.

As eleições de 2022 foram as mais importantes de nossa República. Fascistas que saíram do armário sob a luz da extrema direita, explicitada ao lado dos oportunistas de sempre, foram derrotados pela primeira frente ampla que deu certo no Brasil.

Entretanto persiste um contingente de vítimas de dissonância cognitiva, doença psiquiátrica provocada por brutal campanha de fake news, que precisa conhecer a verdade dos fatos. Essas pessoas acreditam em conspirações, em fantasmas que não existem. As cortes de Justiça, sobretudo Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, foram determinantes no cumprimento das leis, mesmo diante de forte campanha contra as urnas eletrônicas. Não há como negar fatos, seguir acreditando em falsas versões.

O resultado das urnas foi uma conquista do povo. Venceram os negros, os indígenas, as mulheres, os LGBTQIA+, os artistas, os intelectuais, os professores, os estudantes, os cientistas, os portadores de necessidades especiais e, principalmente, as famílias dos mortos pela Covid-19. Gente que não é vingativa, apenas tragicamente marcada pelo negacionismo, pela falta de respeito à vida.

Importante entender que grosseria, discriminação, racismo, deboche, autocracia, desmando, corrupção, uso do nome de Deus em vão, perigo de retrocesso, mentiras e desrespeito não acabaram. Tais práticas apenas deixaram o poder central do país, mas seguem vivas na seita que não aceita o resultado das eleições. É preciso estar atento, impedir que esse tipo de movimento nos tire a paz, agrida a ordem e ameace a democracia. Excessos devem ser punidos.

Liberdade de expressão exige responsabilidade de expressão.

*Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi) e “Educação S/A” (Pearson).

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