Opinião
Quem é Giordano?
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Desculpem por usar a primeira pessoa neste artigo. Mas não posso deixar de fazer uma confissão: perguntado sobre o desempenho dos senadores de São Paulo, citei dois. E o terceiro, o Giordano? Quem, quem? Como analista político há cerca de quatro décadas, não podia desconhecer que Giordano, Alexandre Luiz Giordano, um dos três senadores de São Paulo, do PSL, ao lado de José Serra e Mara Gabrilli, ambos do PSDB. O senador assumiu no lugar do major Olímpio, que morreu de Covid-19 em março do ano passado.

Fui fisgado pela teia do desconhecimento criada na esteira de suplentes sem história política, muitos dos quais são empresários, inclusive Giordano, que ganham vagas na chapa majoritária ao Senado, graças ao auxílio/ajuda/apoio financeiro dado ao titular. Uma vista d’olhos no plenário da Câmara Alta vai exibir boa parcela de desconhecidos no conjunto de 81 senadores. Alguns até conseguem entrar no rol de senadores destacados em função de uma ativa participação no plenário e nas Comissões. Muitos se recolhem à redoma, escondendo-se do palco da visibilidade.

O fato é que a figura de suplente de senador merece um reposicionamento. Não pode ser um espaço para negociação entre o candidato a titular e eventuais interessados, principalmente quando estes não têm nenhum contato com eleitores. Ou seja, o suplente pode chegar ao Céu, como se referia o velho cacique udenista Dinarte Mariz (RN) ao Senado, sem ganhar um voto do eleitor. Senador sem voto é, para usar a expressão de Gay Talese, talentoso escritor norte-americano, uma “Ferrari sem gasolina”, analogia que usou para mostrar Frank Sinatra em estado gripal.

A vaga do titular, em caso de morte ou afastamento para assumir outras funções na administração pública, deveria ser ocupada pelo candidato a deputado que ficou na primeira suplência. É o que defende uma corrente de analistas e políticos, ancorados no conceito de que, nesse caso, estaria contemplada uma figura que disputou voto, não se tratando de um paraquedista da política. A tese tem certo fundamento, mas, convenhamos, parece injusta.

Os deputados eleitos tiveram mais votos ou mostraram maior densidade eleitoral que o primeiro suplente. Logo, seria mais justo que o mais votado fosse o escolhido. Tal posicionamento, no entanto, mexerá com as peças do tabuleiro político no Estado que sedia a questão. Cria problemas para siglas que formaram federações, muda a fisionomia partidária, enfim, desarruma a equação política.

Que outras formas poderiam ser discutidas? Em nossa análise, aquelas que contemplam a viabilidade eleitoral. O suplente de senador há de mostrar que passou no teste do eleitor, que foi às ruas, enfim, que não saiu de sua casa ou de seu escritório direto para a cúpula côncava do Senado. E como fechar o argumento? Com uma chapa com o nome do titular e de dois ou três suplentes, que deveriam ser submetidos ao voto. Portanto, entre os nomes dos suplentes, o eleitor escolheria o perfil que julgasse mais adequado.

Alguém poderá objetar: mais burocracia, mais dificuldades para o eleitor, mais demora. Nada disso. Basta clicar o nome desejado. Desse modo, o Estado ganharia senadores legitimados pelo voto em uma chapa que abrigaria perfis entre representantes de qualquer categoria profissional. Ou seja, qualquer cidadão(ã) poderia ocupar essa lista, sem restrição a nomes ou suspeição sobre intenções.

Na verdade, outros critérios podem melhorar o conjunto senatorial. Como se sabe, os senadores representam os Estados e os deputados, o povo. A letra constitucional, ao definir papéis diferentes para as duas casas congressuais, de certa forma sinaliza na direção dos perfis de candidatos. Os senadores olham para os interesses da unidade federativa, enquanto os deputados, as demandas sociais, aspirações e expectativa das populações.

Estes dois eixos sugerem que candidatos a senador tenham uma visão mais abrangente de seus entes federativos, aconselhando a indicação de perfis com mais experiência no trato das questões públicas. E candidatos à Câmara Federal seriam os perfis mais comprometidos com demandas locais e regionais. Um formato que atende a critérios subjetivos, mas parece justo. 

Sabemos que esse ideal político jamais será cumprido no Brasil, onde o rol de questões está atrelado às conveniências político-partidárias.

Ou seja, vamos ter de conviver com Giordanos por muito tempo. 

*Gaudêncio Torquato é jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político 

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