Opinião
O programa dos 100 dias
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Daqui a pouco, em 1º de janeiro, a fatura começará a chegar às mesas dos 5.570 prefeitos municipais. E, claro, com parte da conta jogada nos gabinetes dos cerca de 60 mil vereadores. A bacia de água fresca está ali perto, permitindo que todos possam tomar um banho revitalizante nesses dias que antecedem o Natal, o Ano Novo e a posse. É hora de uma boa reflexão, a começar pelas insubstituíveis perguntas: por que ganhei, onde obtive mais votos, por que perdi em determinados bairros e regiões, com quais demandas e promessas assumi compromisso, que base política devo montar na Câmara de Vereadores, qual a verdadeira situação do município que vou administrar por (mais) quatro anos?

De pronto, vocês viram na última linha anterior um (mais). Trata-se de uma lembrancinha pertinente a quem foi reeleito. Para muitos alcaides que continuarão no comando dos municípios, a lógica é a de que apenas darão sequência ao tipo de gestão que vinham exercendo. Nada mais errado. Nesses tempos de extrema carência e prioridades que clamam a atenção dos governantes, os modelos de gestão precisam ser alterados, ganhar um choque de eficiência, receber ajustes, melhorar a performance geral. Assim como os novos, tratem o desafio de recomeçar a administração com espírito renovado e disposição de fazer o melhor em todas as áreas.

É evidente que deve ocorrer um espaço de análise, estudos, avaliação, ações e projetos a serem empreendidos, razão pela qual tanto se prega um “programa de 100 dias”. Aceitando-se essa ideia, vejamos como trabalhar nesse tempo, sob a crença de que não pode haver paralisação de atividades essenciais. Essa primeira fase do governo tem como foco “a arrumação da casa”, quando se faz uma ampla prospecção sobre os parafusos e ferramentas que impedem o bom funcionamento da engrenagem. Hora de trocar equipamentos, pessoas, métodos.

Mesmo sendo difícil aos prefeitos de muitas regiões, que ainda praticam a política no molde antigo, o bom senso aponta para o uso da meritocracia, com a disposição de indicar especialistas, os que dominam bem as áreas de conhecimento para ocupar cargos-chave na administração.

A partir daí, o campo das emergências e de alta prioridade deve ser imediatamente enfrentado, com ênfase para os equipamentos hospitalares, absolutamente imprescindíveis nesses tempos medrosos do Covid-19. Mesmo que a vacina já esteja em uso nos primeiros meses do ano, a defesa da saúde é prioridade máxima. Em vez de a administração começar a construir uma nova, o mais prudente é rearrumar a casa, mudar o que precisa ser mudado.

Revisto o campo emergencial, com um olhar acurado para a melhoria de todos os serviços públicos essenciais, o plano de 100 dias agora terá condições de planejar as ações para todo a ano de 2021. Deve-se ter em mente a situação da economia brasileira, que ainda padecerá de fraqueza. O secretário-geral da ONU, o português Antonio Guterres fez grave alerta, semana passada, ao considerar que o mundo viverá no próximo ano a mais dura recessão desde a II Guerra Mundial. E os analistas estão refazendo suas projeções dentro de uma diminuta margem de crescimento.

Obras de médio e longo prazos só devem ser iniciadas caso haja recursos. Nada de esqueletos e elefantes brancos. Essa imagem de coisas não concluídas é uma mancha na imagem do governante.

Sob os horizontes de escassez e, ao mesmo tempo, sob olhar mais crítico do eleitor, o governante haverá de se desdobrar para produzir programas baratos e criativos. O investimento no treinamento de quadros, a melhor preparação do funcionalismo são programas que darão grandes resultados até no médio prazo.

É claro que o prefeito não deve esquecer de fazer política. A boa política, não a politicagem. Nesse sentido, insere-se a articulação com a bancada legislativa, com formação dos apoiadores da administração e o compromisso de todos de trabalharem em prol dos programas de alto teor para a comunidade.

Já a articulação social – o contato estreito com as entidades e as organizações e suas lideranças civis – também se enquadra no programa de governo, eis que a tendência para os próximos tempos é a governança participativa, quer dizer, a voz do povo fazendo-se ouvir na condução municipal.

Dessa forma, o governante atravessará, sem impactos negativos, os ciclos de crescimento, maturidade e clímax que o tornarão respeitado e até admirado. Agora, se não fizer uma boa lição de casa, antecipará a fase perigosa de uma administração, que é o declínio.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato.

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