Meio Ambiente
Pesquisador descobre dez novos sítios arqueológicos no interior da Amazônia
Foto:Leonardo Lopes
Leonardo Lopes

Restos de cerâmica com pinturas e incisões, carvões e a presença de terra preta arqueológica ajudam a contar a história de como viviam e se comportavam os antigos habitantes da Amazônia. No início de janeiro, o Instituto Mamirauá mapeou dez novos sítios arqueológicos no interior do estado do Amazonas. Os vestígios coletados estão associados a populações produtoras de cerâmicas que ocuparam a região cerca de 3 mil anos atrás.

O levantamento foi conduzido dentro e ao redor da Estação Ecológica (Esec) Jutaí-Solimões e da Reserva Extrativista (Resex) Rio Jutaí, unidades de conservação ambiental que juntas somam mais de 500 mil hectares. O trabalho científico é parte de uma colaboração do instituto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão dessas áreas protegidas.

Foto: </em><em>Bernardo Oliveira)</em></p>
<p>“Os estudos arqueológicos são complementares aos levantamentos de fauna e flora nas unidades de conservação e contribuem com dados para conhecer o passado da região e pensar em formas de proteger o território”, afirma Márcio Amaral, arqueólogo do Instituto Mamirauá que identificou os novos sítios.</p>
<p><strong>Antepassados </strong></p>
<p>Durante doze dias, o pesquisador percorreu comunidades e trechos de floresta nas calhas dos rios Jutaí e Solimões à procura de traços da influência dos antepassados na paisagem. E os sinais estão por toda parte: das manchas do solo arqueológico escuro e cheio de nutrientes, conhecido popularmente como terra preta de índio, até à copa das palmeiras de açaí, pupunha e outros frutos que foram selecionados por nossos ancestrais amazônicos para alimentação e são apreciados até hoje.</p>
<p>“Existe uma associação muito próxima entre terra preta, sítios arqueológicos e plantas úteis aos seres humanos, como a bacaba, o açaí a pupunha e o ingá. Por vezes, os arqueólogos não conseguem achar a terra preta, nem fragmentos cerâmicos, mas conseguem ver a vegetação diferente. A antropização da área indica que ali provavelmente existe um sítio arqueológico”, explica Márcio.</p>
<p>A posição de alguns dos sítios arqueológicos encontrados coincide com o endereço de comunidades da região. “Os sítios compartilham o mesmo espaço de áreas antrópicas, com terra preta e fértil. A população atual também está morando em cima desses sítios, o mesmo espaço que já foi ocupado há 3 mil, 4 mil anos. É um padrão que se repete e é notado em pesquisas arqueológicas em toda a Amazônia”.</p>
<p>Na busca pelos sítios, as instruções dos atuais moradores da floresta também são essenciais. “Precisamos muito das informações das pessoas locais”, conta Márcio. “Elas são nossas fontes primárias, porque conhecem essas áreas como ninguém, manejam e plantam no solo e tem o conhecimento de onde estão os vestígios dessas aldeias antigas”.</p>
<p><strong>Tradições Milenares</strong></p>
<p>A coleta nos recém-descobertos sítios arqueológicos revelou fragmentos de dois conjuntos cerâmicos da história pré-colonial da Amazônia: a tradição Pocó e a tradição Polícroma da Amazônia.</p>
<p>O conjunto Pocó foi produzido por povos cujos registros mais antigos de ocupação no território amazônico datam do primeiro milênio antes da era cristã e foram catalogados primeiramente nos rios Nhamundá e Trombetas, região do baixo Amazonas. Entre as características mais marcantes das cerâmicas Pocó está o uso diverso de cores, com destaque para o amarelo, laranja e vermelho sobre um fundo branco, e a recorrência de figuras geométricas incisas como retângulos, quadrados, círculos, faixas e linhas.</p>
<p>“Esse tipo de incisão geométrica é encontrado em sítios arqueológicos como o da Boa Esperança (na Reserva Amanã, centro do Amazonas), dentro do rio Juruá e em Santarém, no Pará. Os registros chegam também até às regiões rio Xingu e ao Rio Tocantins. O que nos dá a dimensão que alcançou a tradição cerâmica Pocó há 3 mil anos dentro dessa ampla região”, destaca o arqueólogo.</p>
<p>“Através dessas peças, é possível observar a dinâmica dessas populações, que não estavam estáticas, não necessariamente na questão de mobilidade total, mas de pessoas que tinham funções específicas para fazer essas pontes entre áreas distintas”, continua o pesquisador do Instituto Mamirauá. “O alcance das cerâmicas Pocó parece estar associado a fatores que incluem agricultura, sedentarismo, aumento populacional e a comunicação entre regiões por meio das antigas e complexas redes de interações sociais de curta, média e longa distância”.</p>
<p>O Instituto Mamirauá é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e realiza há mais de uma década estudos arqueológicos na Amazônia Central, ajudando a expandir as fronteiras do que se conhece a respeito do passado da região.</p>
<p>“O trabalho desenvolvido pelo Instituto Mamirauá é importante para que possamos compreender essas dinâmicas antigas na Amazônia, que antes se pensava que eram muito simples e efêmeras, mas o que os resultados recentes mostram é que muitos aspectos culturais tiveram grande continuidade e dispersão dentro das terras baixas amazônicas”, afirma Márcio Amaral.</p>
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<p>[image,91176] <em>(Foto: Leonardo Lopes
Foto: Bernardo Oliveira)

“Os estudos arqueológicos são complementares aos levantamentos de fauna e flora nas unidades de conservação e contribuem com dados para conhecer o passado da região e pensar em formas de proteger o território”, afirma Márcio Amaral, arqueólogo do Instituto Mamirauá que identificou os novos sítios.

Antepassados 

Durante doze dias, o pesquisador percorreu comunidades e trechos de floresta nas calhas dos rios Jutaí e Solimões à procura de traços da influência dos antepassados na paisagem. E os sinais estão por toda parte: das manchas do solo arqueológico escuro e cheio de nutrientes, conhecido popularmente como terra preta de índio, até à copa das palmeiras de açaí, pupunha e outros frutos que foram selecionados por nossos ancestrais amazônicos para alimentação e são apreciados até hoje.

“Existe uma associação muito próxima entre terra preta, sítios arqueológicos e plantas úteis aos seres humanos, como a bacaba, o açaí a pupunha e o ingá. Por vezes, os arqueólogos não conseguem achar a terra preta, nem fragmentos cerâmicos, mas conseguem ver a vegetação diferente. A antropização da área indica que ali provavelmente existe um sítio arqueológico”, explica Márcio.

A posição de alguns dos sítios arqueológicos encontrados coincide com o endereço de comunidades da região. “Os sítios compartilham o mesmo espaço de áreas antrópicas, com terra preta e fértil. A população atual também está morando em cima desses sítios, o mesmo espaço que já foi ocupado há 3 mil, 4 mil anos. É um padrão que se repete e é notado em pesquisas arqueológicas em toda a Amazônia”.

Na busca pelos sítios, as instruções dos atuais moradores da floresta também são essenciais. “Precisamos muito das informações das pessoas locais”, conta Márcio. “Elas são nossas fontes primárias, porque conhecem essas áreas como ninguém, manejam e plantam no solo e tem o conhecimento de onde estão os vestígios dessas aldeias antigas”.

Tradições Milenares

A coleta nos recém-descobertos sítios arqueológicos revelou fragmentos de dois conjuntos cerâmicos da história pré-colonial da Amazônia: a tradição Pocó e a tradição Polícroma da Amazônia.

O conjunto Pocó foi produzido por povos cujos registros mais antigos de ocupação no território amazônico datam do primeiro milênio antes da era cristã e foram catalogados primeiramente nos rios Nhamundá e Trombetas, região do baixo Amazonas. Entre as características mais marcantes das cerâmicas Pocó está o uso diverso de cores, com destaque para o amarelo, laranja e vermelho sobre um fundo branco, e a recorrência de figuras geométricas incisas como retângulos, quadrados, círculos, faixas e linhas.

“Esse tipo de incisão geométrica é encontrado em sítios arqueológicos como o da Boa Esperança (na Reserva Amanã, centro do Amazonas), dentro do rio Juruá e em Santarém, no Pará. Os registros chegam também até às regiões rio Xingu e ao Rio Tocantins. O que nos dá a dimensão que alcançou a tradição cerâmica Pocó há 3 mil anos dentro dessa ampla região”, destaca o arqueólogo.

“Através dessas peças, é possível observar a dinâmica dessas populações, que não estavam estáticas, não necessariamente na questão de mobilidade total, mas de pessoas que tinham funções específicas para fazer essas pontes entre áreas distintas”, continua o pesquisador do Instituto Mamirauá. “O alcance das cerâmicas Pocó parece estar associado a fatores que incluem agricultura, sedentarismo, aumento populacional e a comunicação entre regiões por meio das antigas e complexas redes de interações sociais de curta, média e longa distância”.

O Instituto Mamirauá é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e realiza há mais de uma década estudos arqueológicos na Amazônia Central, ajudando a expandir as fronteiras do que se conhece a respeito do passado da região.

“O trabalho desenvolvido pelo Instituto Mamirauá é importante para que possamos compreender essas dinâmicas antigas na Amazônia, que antes se pensava que eram muito simples e efêmeras, mas o que os resultados recentes mostram é que muitos aspectos culturais tiveram grande continuidade e dispersão dentro das terras baixas amazônicas”, afirma Márcio Amaral.

[image,91176] (Foto: Leonardo Lopes

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