Campo
Micotoxina identificada no grão impede a venda e produtores do Estado estão preocupados com escoamento da produção
Foto:Jefferson Christofoletti
Jefferson Christofoletti

O auditório da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas/TO) ficou pequeno na última quinta-feira, 1º de novembro, para receber os cerca de 150 participantes até de outros estados que se acotovelavam para ouvir a palestra “Aflatoxinas em Milho: Identificação e Manejo”, proferida por Rodrigo Véras da Costa, pesquisador e especialista em fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG). Produtores e exportadores do grão estão com problemas de comercialização, devido à identificação de aflatoxina no milho durante fiscalização sanitária. Levantamento da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária (Seagro) constatou que aproximadamente 500 mil sacas foram barradas para a venda, mas o prejuízo pode ser ainda maior, segundo Tadeu Teixeira Junior, gerente de agricultura da Seagro. A aflatoxina é um tipo de micotoxina das mais nocivas do mundo, considerada o agente natural mais carcinogênico que se conhece.

“Essa micotoxina é altamente perigosa, porque mesmo quando o milho é processado ela não morre. Então ela pode ser encontrada em inúmeros alimentos processados, como flocos de milho e até na cerveja. Pior: se o animal consumir o milho contaminado, transmite aflatoxina para a carne e o leite”, alerta Véras. Entre as diversas doenças provocadas pela toxina, estão câncer de fígado, depressão, hemorragias, dores abdominais, ataxia (perda do controle muscular), entre outras.

Por essa razão, a Europa é um dos compradores mais exigentes do mundo, não admitindo um nível de contaminação superior a quatro nanogramas. Brasil, Argentina e Estados Unidos já admitem até cinco vezes acima desse patamar. Nos Estados Unidos inclusive há uma legislação específica que determina a destinação do milho de acordo com seu grau de contágio: até 20 nanogramas o grão pode ser destinado ao consumo humano. Mais do que isso, dependendo do nível de infestação, pode ser destinado a animais, à produção de etanol ou simplesmente deve ser incinerado. No Brasil, a legislação é vaga e não diferencia os diversos graus de contaminação.  

Teixeira revela como a Seagro descobriu casos de aflatoxina no Tocantins. “Uma grande empresa exportadora de grãos entrou em contato conosco para relatar sobre a rejeição de seus lotes de milho. A princípio a demanda era ligada a questões tributárias, mas ali acendeu um alerta e fomos saber se o problema era local ou se atingia outras empresas”, diz. De fato, depois de uma consulta a mais de 30 armazenadores do estado, a Seagro tomou conhecimento de que várias estavam com o mesmo problema de contaminação. “Foi quando tivemos a ideia de organizar esse evento em parceria com a Embrapa”, destaca.

O temor dos produtores e empresários é que o Estado seja visto como produtor de grãos contaminados e perder possíveis compradores. “O Mato Grosso, que é um grande produtor de milho, é tido como fornecedor de grão saudável, limpo. Se o Tocantins pegar esse estigma de exportador de grão contaminado pode inviabilizar plantio de milho no estado”, alerta Véras.

Prevenir é a única forma de evitar o contágio 

Provocada pelo fungo Aspergillus flavus, que coloniza e causa o mofamento dos grãos, a aflatoxina é resistente ao tratamento com fungicidas, que encontram dificuldade de atingir o alvo. Como acomete a espiga do milho e ela fica envolta a uma massa de olhas, o agroquímico não consegue chegar ao local onde está o fungo. Além disso, a micotoxina é altamente contagiosa e pode ocorrer em qualquer momento: do plantio à industrialização, passando pela colheita, armazenamento e transporte. 

“A melhor forma é prevenir”, ressalta Véras, acrescentando que temperaturas elevadas e períodos de seca na fase de pré-florescimento favorecem o aparecimento do fungo. Nesse sentido, o clima do Tocantins é extremamente propício à contaminação. “No período de plantio temos um clima quente e úmido e isso é tudo o que o fungo quer para se reproduzir”, detalha ele.

Para prevenir a doença, o produtor deve tomar uma série de medidas, a começar pela escolha de híbridos mais resistentes e plantar na época certa, evitando o estresse hídrico na fase do pré-florescimento. Também deve controlar os insetos, pois eles fazem furos na planta que favorecem à contaminação do fungo. A colheita também deve ser na época correta, evitando-se deixar o milho por longos períodos no campo. As colheitadeiras também precisam estar devidamente calibradas para evitar quebra dos grãos durante a colheita – o que também favorece a entrada do fungo. Limpeza e secagem correta dos grãos, além de armazenamento adequado em depósitos em boas condições higiene são medidas que devem ser adotadas para evitar a ocorrência de micotoxinas.

“O produtor de Tocantins deve ser extremamente cuidadoso e o objetivo dessa palestra foi chamar atenção sobre isso. Temos a ideia inclusive de criar um grupo de trabalho voltado para alertar todos os agentes envolvidos na cadeia do milho para que esse problema não prejudique ainda mais a produção. O que aconteceu esse ano já é um alerta”, conclui Véras.

Veja Também

Os estandes que comercializam os pratos classificados para o FGT abrem às 18 horas, com oferta de receitas variadas e acessíveis a todo o...
O presidente do Sebrae, Décio Lima, afirma que iniciativa é uma ação do Brasil soberano, que abre novos caminhos...
Um relatório intitulado “PIB da Música”, divulgado com exclusividade pela Associação Nacional da Indústria da Música (ANAFIMA), revela que o setor musical brasileiro movimentou...
Objetivo é ampliar debate com parlamentares, especialistas e consumidores diante de riscos de monopólio e aumento de preços no setor pet...
Segundo a entidade, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o percentual estimado de pessoas com deficiência visual...
O levantamento aéreo vai analisar a viabilidade de ocupações e subsidiar estudos para futuros processos de regularização fundiária...
O índice acumula queda de 1,35% no ano e alta de 3,03% nos últimos 12 meses. Em agosto de 2024, o IGP-M subira 0,29% no mês...
A demanda por essa ação específica em Formoso do Araguaia partiu de uma solicitação do prefeito daquele município, Israel Borges...
Ao todo, 1.884.035 contribuintes receberão R$ 2,92 bilhões. A maior parte do valor, informou o Fisco, será para contribuintes sem...
O julgamento terá ampla cobertura jornalística. A Corte recebeu 501 pedidos de credenciamento...
A estrutura do evento já está quase finalizada, segundo a gestão de Palmas: o palco, estandes, tendas e...
O vice-governador esteve presente em três importantes eventos no Tocantins: a festa alusiva ao Dia do Soldado, em Porto Nacional; a final da...
Bancos e instituições financeiras estão impedidos de aceitar novos contratos firmados apenas com a assinatura do representante legal...
Segundo o diretor-presidente da Infra S.A., o Brasil vive um momento de retomada na infraestrutura, com grandes oportunidades...
A taxa de desocupação corresponde ao percentual de pessoas que estão sem trabalho, mas em busca de uma oportunidade. Segundo...
A Vila Sertões estará no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues, em Palmas (TO). A abertura da área de box para as equipes será no...
O projeto é coordenado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e envolve quatro fases de atuação, incluindo esta etapa de serviços itinerantes...
A criação da cobrança seria para custear a malha viária municipal, sobrecarregada pelo aumento do tráfego após colapso da ponte entre...

Mais Lidas

Agenda Cultural

Articulistas

Atividade Parlamentar

campo

Esporte

Meio Jurídico

Patrocinado

Polícia

Sociedade em Foco

Universo Espiritual

Publicidade Institucional