Opinião
Povo sem esperanças é um rio seco
Gaudêncio Torquato e jornalista e professor titular da USP
Gaudêncio Torquato e jornalista e professor titular da USP

Um povo descrente é como um rio seco. Um povo sem esperança é como uma árvore desfolhada, sem viço e com a cor das coisas mortas. O povo brasileiro pena suas amarguras no deserto frio das desesperanças. Pesquisas recentes mostram um retrato de apatia geral. As eleições ocorrerão dia 7 de outubro. E pelo que se vê, o povo não está se tocando para o maior evento cívico do ano. Vive avançado grau de desânimo e parece definhar um pouco todos os dias ao sabor da febre de sonhos desfeitos. Um povo sem sonhos é uma entidade sem espírito e sem direção.

Cassam sua vontade, a admiração que tem pelos ritos da Pátria e o respeito às instituições. O clima de terra devastada em que se transformou o País, as acusações que pululam de todos os cantos, os interesses em choque e as disputas entre grupos políticos afastam a população do sistema político, abrindo imensos vazios entre os poderes decisórios e a sociedade.

Na verdade, vivemos em dois Brasis. No primeiro, gigantesco e periférico, habitam estômagos famintos e bocas sedentas; no segundo, pequeno e central, uma disputa ocorre entre bolsos gananciosos e mentes matreiras. O primeiro é o mundo dos desvalidos, das massas amorfas, do povo que prova o gosto do suor e amarga o cansaço das filas. O segundo gira em torno de núcleos nas médias e grandes cidades. Nele, gravitam contingentes de profissionais liberais – esses, sim, trabalhadores de garra -, mas também donos de capitanias hereditárias, comerciantes de favores, sultões e mandarins de mil e uma noites. E, há, ainda, um grupo que se encastela na Ilha da Fantasia, mais conhecida por Brasília.

O Brasil do centro conta com instrumentos poderosos. Seu pensamento penetra em vasos capilares e corre até o último dos habitantes das margens. Sua voz é forte. Por isso, é de se esperar que suas vozes ecoem longe. Já o Brasil distante fala por meio de onomatopéias. As massas mais ouvem que dizem. Até chegarem a um limite de saturação. (Será que não já se chegou a esse estágio?)

Na Ilha da Fantasia, desfiles de siglas e representantes do povo se sucedem, juntando gladiadores, filhotes de Maquiavel, crentes de prontidão, dispostos a jogar a alma ao serviço da Pátria e comerciantes de plantão fazendo trocas de ocasião. Ali estão os esgrimistas da política.

A festa da política, em ano eleitoral, apenas está se iniciando e, desta feita, não gera entusiasmo ou engajamento. Está cedo, dizem. Mas em final de maio, o Brasil do centro já deveria estar se aproximando do Brasil das margens. Que há algo estranho no ar, sem dúvida.

O Brasil real, das pontas, está distante do Brasil artificial, dos discursos e das promessas. A crise que corrói as populações pobres parece não acabar. Mas nunca se ouvirá tanto a palavra Povo como nos próximos tempos. Claro, o povo é sempre lembrado quando querem tirar algo dele. Vão tentar se aproximar, afagar, prometer mil coisas. Porém, urge atentar para um detalhe: pelo que se vê, se ouve e se sente, o povo não vai deixar que arrombem sua cabeça ou seu coração para roubarem dele a única arma que dispõe para garantir o futuro: o voto. Essa arma, o povo saberá usar com maestria. É o que a Pátria espera. 

*Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato

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