Opinião
Matar ou Morrer? O Estado induz ao erro
Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança
Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança

Por trás dos noticiários da crise política e econômica brasileira se esconde uma guerra, que pouco é divulgada, se levarmos em conta a letalidade que alcança. De um lado estão às polícias (Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Guarda Municipal) e do outro a população (bons e maus). O alvo é sempre o crime organizado, mas como em qualquer guerra, seja no Iraque, Síria ou Brasil, quem sofre as consequências são todos os civis que tentam viver no olho deste furacão.

Segundo os dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, dentro deste cenário bélico as baixas são para todos. Em 2015, 358 policias foram mortos, enquanto 3.220 pessoas foram vitimadas em intervenções policiais. Se olharmos somente os dados e analisarmos com a velha simplicidade de mocinho e vilão das novelas podemos concluir que a polícia brasileira é o Darth Vader, do Star Wars. 

Mas o cenário não é raso. A análise correta precisa ser feita de forma fria e imparcial para encontrar as raízes de números tão alarmantes. Imagine você, sair de casa pela manhã e enfrentar um ônibus cheio com medo de usar o seu uniforme, pois pode ser morto. Depois disso, se chegar ao trabalho, você precisa zelar pela sua segurança e da população com infraestrutura precária – normalmente o crime está mais preparado neste sentido -, ganhando um salário mínimo. Ou no dia de folga, na hora do passeio em família, ser surpreendido por uma emboscada e perder a vida – no ano passado, mais polícias morreram fora, do que em serviço.

Esta é a rotina da polícia brasileira. Tudo isso, sem a menor preparação do estado para agir em momentos de pressão. Estressado, armado, sem saber quem realmente é o bandido e tendo o poder de julgar. Uma bomba relógio prestes a explodir. 

Isso justifica o desaparecimento de um inocente após uma batida? Não. Mas mostra que casos como estes são ‘tragédias anunciadas’. 

Então a culpa é inteira do crime, que se esconde no meio da população. Lobo na pele de cordeiro. Assim como a polícia também tem sua parcela de culpa, mas a análise segue rasa se pensarmos desta forma. Quando pequeno, de origem pobre, não teve acesso à educação, saúde ou saneamento básico. Não teve oportunidades. Pode ter visto o pai ou um irmão inocente ser morto em uma blitz. Também não serve de desculpa para matar ou assaltar um trabalhador. Entretanto, as chances de termos mais um ‘soldado do crime’ aumentam quando a situação é propícia.

Também temos, como sociedade, nossa responsabilidade já que não cobramos nossos direitos ou votamos de forma correta em representantes honestos que busquem políticas públicas para amenizar estes sofrimentos diários. 

Mas o grande responsável é um Estado ausente.

Quem não treinou ou preparou a polícia? Quem não deu serviços básicos para a população fugir da marginalidade? No fim, quem fomenta está guerra é o próprio governo que não faz o seu papel. Enquanto não existir um planejamento que possa prover qualidade de vida para todos, fica quase impossível fugir do cenário atual. Medidas paliativas como invasão de morros ou outras formas de enfrentamentos contra o crime organizado são como um pano seco em um vazamento. Só vai estancar por um breve período. 

Educação é sempre a palavra-chave. Tanto um lado quanto o outro precisa ser educado para ter o discernimento na hora de decidir apertar o gatilho. Evitar que uma criança entre para ilegalidade, seja fardada ou não, é dar outra oportunidade a ela. Onde o Estado se omite, a criminalidade cresce. Seja mocinho ou vilão, bandido ou polícia. 

*Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e pós-graduações nas áreas de marketing e negócios

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