Opinião
Uma nova crise no campo: os contratos de pré-fixação de preço

A venda direta a grandes empresas (tradings, esmagadoras ou exportadoras de soja) é uma prática antiga entre os produtores rurais, que por não terem mais acesso ao crédito oficial, buscam em grandes grupos internacionais fixados no Brasil o custeio financeiro de sua safra ou até mesmo a aquisição de insumos a prazo para a implementação da produção.

Além do mais, a movimentação global do mercado financeiro, aliada a grande crise que assolou o setor primário nas últimas 3 safras (2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007), estimularam os produtores a buscar ferramentas de gestão, como os contratos antecipados de compra e venda de produto, para tentar evitar novos prejuízos e começar a programar o pagamento das dívidas acumuladas desse período, uma vez que a produção é direcionada para quitar o saldo do financiamento utilizado para o custeio e ainda gerar receita para subsistência do produtor, além de possibilitar que os lucros sejam investidos na modernização dos maquinários e na utilização de tecnologia recente para o aumento da produtividade.

Essa forma de inibir riscos – elaboração de contratos antecipados de compra e venda de soja –, segundo o CEPEA/Esalq/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), corresponde a 60% de toda a produção do Mato Grosso e Bahia e cerca de 40% de Mato Grosso do Sul. Contudo, a fixação dos valores dos contratos ocorreu em uma época em que os mercados de commodities estava bastante conservador, garantindo ao produtor tão-somente o necessário para cobrir os custos de produção.

No entanto, com a alta dos produtos agrícolas, o produtor rural que vier a entregar a quantidade de grãos pactuada com as multinacionais dos contratos que já estão com os preços pré-fixados, experimentará uma privação de receitas jamais prevista, amargando, dependendo do caso, prejuízos na ordem de cerca de U$ 10 por saca de soja, justamente no momento em que uma boa safra, aliada a bons preços, poderia significar o início da recuperação do campo após sucessivas quebras de safra agravadas pela crise cambial.

Portanto, o produtor que prefixou o preço de suas commodities está diante de um grande dilema: entregar a safra pelo preço (baixo) da pré-fixação, e se afundar ainda mais nos prejuízos acumulados nas últimas safras, ou virar a própria mesa, rompendo com os contratos de forma legal para poder vender seu produto pelo preço de mercado, e, assim, iniciar a recuperação do período negro recentemente vivido?

O fato é que há meios legais para reverter esta situação, mesmo porque a estabilização da relação de produção e de crédito agrícola, voltando-se à forma tipificada na legislação de incentivo e incremento da produção agrícola nacional, é assunto de interesse nacional, mesmo não havendo uma fórmula vinda do Governo Federal para salvaguardar o direito dos agricultores dos fortes prejuízos que o mercado imporá ao setor produtivo.

Isto porque os contratos de pré-fixação foram formalizados com cláusulas especificas de penalidade caso viessem a ser rompidos, o que indica possibilidade jurídica de se efetuar o distrato com o pagamento da multa, mesmo que muitos contratos tenham cláusula de irrevogabilidade.

Tal estipulação dá direito ao produtor de romper o contrato, desde que pague a multa estipulada nessas obrigações, normalmente fixada em 50% do valor convencionado. A questão está, pois, justamente na estipulação penal, que por ser manifestamente excessiva, enseja a revisão do contrato celebrado entre as multinacionais e os produtores, multa esta que pode ser reduzida na Justiça – normalmente entre 2% e 10% – segundo apreciação eqüitativa do Juiz, preceito técnico-legal este que já está sendo usado como expediente por vários produtores nacionais, conseguindo, assim, evitar mais prejuízos irreversíveis na agricultura.

Esta alternativa jurídica é o caminho mais justo e legal, cujas primeiras decisões da Justiça já vêm confirmando isto, de o agricultor não se tornar mais uma vítima do sistema de crédito agrícola arruinado porque passa a agricultura nacional.

 

Fábio Bertoglio

Advogado e coordenador jurídico da Lybor Landgraf,

banca advocatícia especializada em crédito rural.

site www.lybor.com.br

Veja Também

Os estandes que comercializam os pratos classificados para o FGT abrem às 18 horas, com oferta de receitas variadas e acessíveis a todo o...
O presidente do Sebrae, Décio Lima, afirma que iniciativa é uma ação do Brasil soberano, que abre novos caminhos...
Um relatório intitulado “PIB da Música”, divulgado com exclusividade pela Associação Nacional da Indústria da Música (ANAFIMA), revela que o setor musical brasileiro movimentou...
Objetivo é ampliar debate com parlamentares, especialistas e consumidores diante de riscos de monopólio e aumento de preços no setor pet...
Segundo a entidade, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o percentual estimado de pessoas com deficiência visual...
O levantamento aéreo vai analisar a viabilidade de ocupações e subsidiar estudos para futuros processos de regularização fundiária...
O índice acumula queda de 1,35% no ano e alta de 3,03% nos últimos 12 meses. Em agosto de 2024, o IGP-M subira 0,29% no mês...
A demanda por essa ação específica em Formoso do Araguaia partiu de uma solicitação do prefeito daquele município, Israel Borges...
Ao todo, 1.884.035 contribuintes receberão R$ 2,92 bilhões. A maior parte do valor, informou o Fisco, será para contribuintes sem...
O julgamento terá ampla cobertura jornalística. A Corte recebeu 501 pedidos de credenciamento...
A estrutura do evento já está quase finalizada, segundo a gestão de Palmas: o palco, estandes, tendas e...
O vice-governador esteve presente em três importantes eventos no Tocantins: a festa alusiva ao Dia do Soldado, em Porto Nacional; a final da...
Bancos e instituições financeiras estão impedidos de aceitar novos contratos firmados apenas com a assinatura do representante legal...
Segundo o diretor-presidente da Infra S.A., o Brasil vive um momento de retomada na infraestrutura, com grandes oportunidades...
A taxa de desocupação corresponde ao percentual de pessoas que estão sem trabalho, mas em busca de uma oportunidade. Segundo...
A Vila Sertões estará no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues, em Palmas (TO). A abertura da área de box para as equipes será no...
O projeto é coordenado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e envolve quatro fases de atuação, incluindo esta etapa de serviços itinerantes...
A criação da cobrança seria para custear a malha viária municipal, sobrecarregada pelo aumento do tráfego após colapso da ponte entre...

Mais Lidas

Agenda Cultural

Articulistas

Atividade Parlamentar

campo

Esporte

Meio Jurídico

Patrocinado

Polícia

Sociedade em Foco

Universo Espiritual

Publicidade Institucional