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Imigração japonesa na Amazônia merece mais investigação, diz cientista
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 “Há poucos estudos sobre a emigração japonesa para a Amazônia, apesar de os migrantes na região terem um papel importante na história das relações entre o Brasil e o Japão”, disse Hiroaki Maruyama, professor da Universidade Rikkyo, no Simpósio Japão-Brasil sobre Colaboração Científica, organizado pela Sociedade Japonesa para a Promoção da Ciência (JSPS) e pela FAPESP nos dias 15 e 16 de março, em Tóquio.

Maruyama morou na década de 1990 no Brasil, tendo sido pesquisador visitante da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, e diretor do Escritório de Representação do JSPS em São Paulo. Dirigiu o Instituto para Estudos Latino-americanos na Universidade Rikkyo de 2007 a 2009. É autor de artigos e livros sobre o Brasil e a América do Sul.

“A imigração japonesa na Amazônia iniciou-se cerca de 20 anos depois da primeira leva para o Brasil, que teve como destino o Estado de São Paulo. Mas a população de nikkeis – migrantes japoneses e seus descendentes – na Amazônia sempre foi muito pequena, o que ajuda a explicar a falta de estudos”, disse Maruyama. “Em 1960, eram apenas 4.933, o que correspondia a 1% do total. Em 2000, o número aumentou para 93.514, mas ainda equivalentes a apenas 6,7% do total.”

“Entretanto, aqueles que foram à Amazônia tiveram um papel importante não apenas na história da emigração japonesa ao Brasil como também no desenvolvimento da região. Eles introduziram uma agricultura organizada e foram bem-sucedidos no cultivo de produtos como pimenta-do-reino e juta”, disse.

De acordo com o pesquisador, a história da imigração japonesa na Amazônia pode ser dividida em três períodos de acordo com suas características: o período inicial, o período de emigração coletiva anterior à Segunda Guerra Mundial e o período pós-guerra.

“No período inicial, que se estendeu do início do século 20 a cerca de 1925, a atração da região foi em razão do boom da borracha, que começou no fim do século anterior. Vieram do Peru, onde estavam, para trabalhar como seringueiros”, disse.

À medida que a corrida da borracha perdeu fôlego, os migrantes se deslocaram pela Amazônia brasileira. “Eram aventureiros sem apoio. Onde quer que se instalassem, passavam a ganhar seu sustento por meio da venda de vegetais que cultivavam. Como eram poucos, praticamente não formaram comunidade e se assimilaram rapidamente à sociedade brasileira por meio de casamentos’’, disse.

Maruyama ressaltou que o período até o fim da Segunda Guerra, de 1925 a 1945, foi muito importante e ocorreu porque o Brasil havia solicitado ao Japão ajuda para reconstruir a economia na região, após a decadência da produção de borracha.

“Foi um período de bastante apoio para a emigração dos japoneses. Organizações de imigrantes foram formadas e receberam vastas extensões de terra sem custo, com base em contratos de concessão. Os locais aos quais os japoneses chegavam eram preparados após terem sido escolhidos previamente por meio de levantamentos conduzidos pelo governo do Japão. O governo japonês e empresas privadas apoiavam a viagem e a construção de instalações de grandes dimensões. Muitos emigrantes tinham aulas sobre a região antes de deixarem o Japão. Vários deles eram pessoas relativamente ricas que viam na Amazônia uma oportunidade de aumentar suas fortunas”, disse.

“Mas a diferença entre os sonhos de antes de entrarem em navios para cruzar boa parte do mundo e a realidade que eles encararam era algo que não poderiam imaginar. Por causa da dificuldade da vida na Amazônia, problemas como a malária e a perspectiva de um futuro incerto fizeram com que mais de dois terços dos imigrantes deixassem a região rumo a áreas como o Estado de São Paulo”, disse.

A emigração japonesa ao Brasil, interrompida em 1942 por causa da Segunda Guerra Mundial, foi retomada com a normalização das relações entre os dois países em 1952. Mas a imigração apoiada pelo governo brasileiro, principalmente para a produção de juta, não foi bem-sucedida, segundo Maruyama.

“Os imigrantes, que deixaram um cenário de confusão e pobreza no Japão, chegavam a locais os mais variados e despreparados para recebê-los. Não houve o cuidadoso planejamento anterior. O resultado é que a maioria deixou a região rapidamente, em busca de melhores condições em outras áreas”, disse.

Maruyama, que entrevistou diversas famílias de descendentes de japoneses na Amazônia, ressaltou que os que permaneceram se assimilaram à sociedade brasileira, especialmente por meio do casamento. “A maioria vive hoje em cidades e acabou ocorrendo o enfraquecimento tanto da linguagem como da cultura japonesa na região. E isso é algo que também precisamos entender melhor”, disse. (Agência Fapesp)

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