Opinião
Um grande (des)encontro

Em 21 de abril de 1960, por volta de oito horas da manhã, cerca de 30 pessoas vindas do povoado Deserto e da cidade de Tupiratins liderados pelo então prefeito daquele município José Cirilo de Araújo, num breve e simples ato, lançaram a pedra fundamental do povoado de Colinas de Goiás, atual Colinas do Tocantins (Silva &Vinhal. 2008 p. 58).

A fundação do povoado assim como sua elevação a município por força da Lei Estadual nº 4.707 de 23 de outubro de 1963, sancionada pelo então governador Mauro Borges Teixeira pode ser interpretada, numa análise histórica abrangente, como um dos efeitos da política de integração regional do governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Essa política teve como uma de suas maiores expressões a construção de Brasília e a abertura de grandes rodovias, entre as quais a Belém-Brasília, atualmente conhecida como BR-153.

A abertura dessa rodovia, no antigo Norte de Goiás, diminuiu os efeitos do isolamento ao qual a região esteve historicamente submetida ao permitir contatos com o norte e centro sul do País. Do ponto de vista da ocupação e do povoamento a região sofreu mudanças consideráveis provenientes da intensa migração que veio de outros Estados como o Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco.

Internamente o processo se repetiu. Parcela considerável da população dos municípios ribeirinhos – que até aquele momento eram os mais importantes e movimentados em função da navegação – tomam o caminho das novas localidades que começam a surgir no eixo da grande rodovia. Movia essa gente as facilidades de comunicação, acesso a terras públicas de boa qualidade, mas acima de tudo, melhores condições de vida. Apesar de existirem algumas variáveis, próprios ao processo histórico de cada localidade, foi esse o contexto que marcou a origem de várias cidades ao longo da Belém-Brasília, no Norte de Goiás. Foi esse o contexto que também marcou o aparecimento de Colinas do Tocantins.

Passados os primeiros 50 anos, o balanço é razoavelmente positivo. O município figura entre os mais importantes do Estado. A população já ultrapassou a marca dos 30.000 habitantes (IBGE, 2010). A maioria dos indicadores sociais estão dentro de padrões aceitáveis e a economia tem diminuído sua dependência do setor pecuarista, que é pouca geradora de empregos. A aposta agora parece estar ligada à valorização do comércio, dos serviços e de alguns manufaturados simples voltados para o mercado externo, aproveitando-se de sua localização estratégica, próxima da rodovia Belém-Brasília e da Ferrovia Norte-Sul.

Contudo, o “caminhar” para o centenário teve início. E aos 51 anos Colinas do Tocantins não enxerga que sua trajetória é marcada por um persistente desencontro. Desencontro que se traduz por grandes lacunas, verdadeiros espaços brancos em seu processo histórico. A pesquisa histórica com temáticas voltadas para o município e seu povo é praticamente inexistente e o poder público local parece não considerar a questão como prioridade. Se, de fato, a produção historiográfica pode contribuir na construção de uma identidade local, quanto tempo ainda teremos que esperar para que se possa estabelecer, entre os moradores, alguma ligação entre o conhecimento do seu passado e alguma sensação de pertencimento ao lugar.

Pesquisas de reconstrução histórica sobre o município e seu povo precisam ser feitas e se tornarem de domínio público. Caso contrário, continuaremos fracassando nessa tarefa de construir uma relação de identidade entre a cidade e quem nela vive, com fortes repercussões negativas a longo prazo. Colinas do Tocantins precisa se encontrar com seu passado. Um passado que, por enquanto, reside na memória dos moradores e no “sono” dos documentos. Que esse desejado encontro não leve mais 50 anos.

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Iltami Rodrigues da Silva é HistoriadorProfessor de História do Tocantins no Colégio João XXIII em Colinas do Tocantins – Co-autor do livro À Sombra da Estrada: a Belém Brasília e a fundação da cidade de Colinas – 1960/1965.

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