Opinião
O mito do inchaço do funcionalismo: o que os números mostram sobre o Brasil
Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.
Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.

A ideia de que o Brasil tem “servidores públicos demais” é repetida com frequência em debates públicos, projetos de reforma e editoriais da grande imprensa. Mas essa percepção não se sustenta quando confrontada com os dados. O Brasil tem, proporcionalmente, menos servidores públicos do que a maioria dos países desenvolvidos.

Hoje, cerca de 12,4 milhões de pessoas trabalham no setor público no Brasil — o que representa 12% da força de trabalho e aproximadamente 6% da população total. Países como França, Reino Unido, Canadá e Noruega chegam a ter entre 20% e 30% dos trabalhadores empregados no serviço público. Mesmo os Estados Unidos, frequentemente citados como exemplo de eficiência administrativa, contam com cerca de 15% da sua força de trabalho dedicada ao setor público. A média dos países da OCDE, grupo que reúne as economias mais desenvolvidas do mundo, é de 18%.

Ou seja: afirmar que há servidores demais no Brasil ignora completamente a realidade internacional.

O tamanho do Estado brasileiro é uma decisão democrática

Outro dado importante: cerca de 90% dos servidores brasileiros atuam nos estados e municípios, responsáveis por serviços fundamentais como saúde, educação e segurança pública. A esfera federal concentra apenas 10% desse total. Isso mostra que o serviço público no Brasil é descentralizado e está presente onde a população mais precisa — nas escolas, postos de saúde, unidades de atendimento e serviços administrativos locais.

Comparar o Brasil a países desenvolvidos exige considerar a estrutura federativa, o tamanho da população e as demandas sociais de um país marcado por profundas desigualdades regionais. Ainda assim, os dados deixam claro que o Brasil não foge à regra internacional em relação à proporção de servidores públicos — e que, na verdade, tem um quadro menor do que muitos países que oferecem serviços públicos de alta qualidade à sua população.

O desafio não é o número — é a valorização e a boa gestão

Se o problema não está na quantidade de servidores, onde está?

O verdadeiro desafio está na valorização do servidor público, na formação continuada, na boa gestão das equipes, na transparência nos processos de contratação e na construção de um ambiente institucional que reconheça o serviço público como uma carreira essencial ao funcionamento do Estado.

A precarização das condições de trabalho, a falta de concursos, o congelamento salarial e os ataques constantes ao funcionalismo apenas agravam os problemas de atendimento à população. Não se faz uma administração pública mais eficiente atacando quem a mantém de pé.

Valorizar o serviço público é valorizar o Brasil

A CNSP reafirma que defender o servidor público não é um ato corporativista — é uma escolha de país. Um Estado eficiente depende de servidores qualificados, motivados e respeitados. E esse respeito começa por reconhecer a importância do seu trabalho e por desfazer mitos que, muitas vezes, servem apenas para justificar desmontes institucionais.

Serviço público forte é pilar de uma democracia sólida.

*Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.

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